O Primeiro Olhar O som suave da música preenchia o salão de mármore, misturando-se ao murmúrio das conversas. Para Amélia Navarro, a noite parecia mais uma obrigação profissional do que uma oportunidade de prazer. Ela havia sido designada para cobrir o evento de gala organizado pela elite empresarial da cidade, mas sentia que era apenas mais uma ocasião onde sorrisos ensaiados e egos inflados dominariam o ambiente. Vestida em um vestido de seda vinho que abraçava suas curvas de forma discreta, mas inegavelmente provocante, Amélia ajustava seu colar enquanto observava a sala. Seu olhar foi atraído por uma figura que parecia deslocada no meio da multidão. Ele não participava das conversas animadas, não ria de piadas que não tinham graça. Apenas estava lá, como uma força silenciosa que fazia o mundo girar ao seu redor. Valentim Castanheira era o tipo de homem que não precisava chamar atenção para si; ela vinha naturalmente até ele. Alto, com ombros largos e uma postura impecável, ele exalava um magnetismo irresistível. Seus traços eram fortes, quase esculpidos: a linha firme do maxilar, a barba cerrada que parecia deliberadamente desleixada, e olhos que pareciam esconder um universo de segredos. Seu terno preto era perfeitamente ajustado, mas não era isso que o fazia parecer perigoso. Era a maneira como ele olhava, como se pudesse desvendar cada pensamento oculto de quem ousasse encará-lo. Quando os olhos dele encontraram os de Amélia, foi como se o salão inteiro desaparecesse. O mundo ficou em silêncio, e o peso daquele olhar a fez esquecer de respirar. Ele não sorriu, não disse nada. Apenas a observou, como um predador, avaliando sua presa. Amélia sentiu o calor subir pelo pescoço, mas não desviou o olhar. Havia algo desafiador naquela troca silenciosa, algo que prometia muito mais do que ela estava preparada para lidar