Marina – 14 anos atrás A porta bateu, e o coração da menina parou. Sozinha em casa, enquanto a mãe trabalhava à noite, Marina estava nas mãos do padrasto — um homem que, há meses, fazia insinuações, toques indesejados, olhares nojentos. Naquela noite, ele cruzou a linha. O grito não saiu, mas a alma dela quebrou. Dias depois, veio a ameaça: — Se você contar, sua mãe não acredita. Vai te botar na rua. Aos quatorze anos, Marina já carregava um fardo que nenhuma menina deveria conhecer: o medo. Fugiu do interior da Bahia levando apenas a coragem. Meses vivendo na rua do Rio de Janeiro, até descobrir a gravidez. Chorou. Quis desistir. Mas decidiu que aquela criança não pagaria pelo pecado do homem que a violentou. O tempo passou. Conheceu Rodrigo, um policial militar que parecia um príncipe. Ele a acolheu, criou o filho como se fosse dele, juntos tiveram mais três crianças. Por alguns anos, acreditou que era feliz. Até que o conto de fadas se transformou em prisão. Rodrigo começou com humilhações, traições, depois veio o controle — trancada em casa, sem direito de respirar sem permissão. Um dia, quando ele viajou a trabalho, Marina reuniu os filhos e fugiu. Não para qualquer lugar: para o coração da comunidade mais perigosa do Rio de Janeiro. Ali, acreditava, Rodrigo nunca ousaria procurá-la. Ângelo – 20 anos atrás O morro sempre foi sua casa. A solidão, sua herança. Abandonado pela mãe aos oito anos, Ângelo aprendeu cedo que amor não era para todos. Viveu de esmolas, de pequenos furtos, até encontrar no crime a única forma de ter respeito. Subiu rápido, com a frieza que o mundo exigia. E, quando já era temido, encontrou Clara. A mulher que o fez acreditar que podia ser diferente. Por ela, Ângelo sonhou em largar tudo. Por ela, sonhou em ter uma família. Mas um dia voltou para casa e encontrou apenas um bilhete: "Desculpa. Eu não nasci para essa vida." Clara havia fugido, sem olhar para trás. Alguns diziam que havia outro homem. Outros, que não suportou viver com um bandido. Não importava. Para ele, foi traição. Naquela noite, o homem que ainda acreditava no amor morreu. No lugar nasceu Dom Ângelo Duarte — frio, mulherengo, c***l, incapaz de confiar em qualquer mulher novamente. O morro se tornou seu trono. O tráfico, sua família. Destino Ela fugia do passado. Ele enterrava o dele. Dois corações partidos, marcados pela dor, caminhando por estradas diferentes. Sem saber que, em breve, o destino c***l os colocaria frente a frente.